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Devaneio pictórico

acrílico sobre tela, 60x80 cm, 2017 

A obra se constrói como alucinação e ferida, como se o inconsciente irrompesse pela tela sem filtros, sem piedade, sem pudor. As figuras deformadas habitam um limiar entre o cômico e o perturbador, entre o infantil e o monstruoso — como se Freud encontrasse Bosch no meio de um sonho febril.

A estrada sinuosa que atravessa o fundo parece saída de um delírio cartográfico: não leva a lugar algum, ou talvez leve para dentro. Para dentro daquilo que se recusa a ser nomeado. O corpo flamejante com um vórtice no peito — quase um buraco negro — carrega uma presença ancestral, cósmica, materna e devoradora. Ao seu lado, uma criatura amarela, de olhos espantados e boca deslocada, ecoa um grito dissonante: o da infância traumatizada, o da existência que ainda não compreende o próprio corpo.

A obra se oferece como espelho distorcido da mente em combustão. É devaneio, mas é também confissão. É pintura, mas é também sintoma. Ao invés de organizar a realidade, ela implode suas fronteiras. Aqui, o sonho não é refúgio — é exposição crua daquilo que vive agachado dentro da gente, esperando um traço para emergir.

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