
Convite inesperado
óleo sobre papel, 21x29 cm, 2016
​
“Convite inesperado” é uma pausa suspensa no tempo, onde o horror se esconde atrás de um gesto sutil. A cena se passa numa estrada clara, quase inocente, emoldurada por verdes profundos — como se a paisagem ainda acreditasse na pureza que ali se desfaz.
Uma criança permanece sobre uma bicicleta, imóvel, prestes a seguir. Ao seu lado, um adulto se inclina e cochicha — e é nesse sussurro que tudo se rompe. Não há gritos, não há força. Há apenas a sugestão, o convite — estranho, sombrio — que distorce o percurso da infância. O vermelho que se espalha sob a bicicleta não é apenas cor: é marca, é o que escorre quando algo essencial é ferido para sempre.
O céu azul assiste, impassível. A natureza permanece intocada, enquanto dentro da cena tudo se contorce. A ausência de rostos acentua a universalidade do gesto. Poderia ser em qualquer bairro, qualquer rua. Poderia ser agora.
A obra silencia o espectador. Faz com que o olhar hesite. E, nesse hesitar, revela o que está prestes a acontecer — ou o que já aconteceu vezes demais.

